quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Contracultura


Nos dias de hoje vivemos a crise de escolha entre duas vertentes cristãs. Sabe-se que há um abismo incalculável entre as duas. A cultura gospel, e a contra-cultura da mesma. Digo isso porque nunca se considerou tão na moda seguir qualquer uma delas.

Seguir a cultura gospel é agradável, quando em nome de uma paixão por Jesus, nos alienamos de tudo que é relevante no nosso meio, e de todos que não estão nele. Aliena-se das questões políticas, sociais e culturais em nome da fé. Ouse de forma sutil, investigar e coletar opiniões sobre algum tema teológico mal resolvido. As respostas vem como quem acha normal rasgar a bíblia, e ficar com a cultura. Vamos para o lado prático. Desde assuntos simples como vestimenta, aparência, opção musical, até questões mais complexas como hierarquia eclesiológica, opção política, costumes “espirituais”, respeito à “santa” casa de Deus, ignoram completamente o ponto de vista bíblico, e escolhem como referencia a cultura que é passada de pais para filhos dentro da igreja de hoje, com tanto zelo. Deus tenha misericórdia.

Já a contra-cultura se torna agradável, não pelo conforto que proporciona (até porque não é nenhum pouco confortável), mas pela adrenalina de sonhar um dia, talvez, salvar o mundo. Ir contra tudo que parece normal, agoniar-se com o que traz estagnação, rebelar-se contra o que foge do conceito de evangelho da graça, são algumas da posturas do adepto da contra-cultura. Eu, particularmente, os chamaria de neo-reformistas.

Mesmo sem querer rotular, acabamos por fazê-lo ao descrever quais grupos são predominantes no movimento contra-cultura. São eles os headbangers, punks, hippies, rastas, e todos aqueles gêneros do underground, que por sua vez não tem como ser desvinculado da contra-cultura nem do ativismo.

Bandas de Hardcore, Death Metal, Screamo, Ska, Punk Rock, Reggae e outros estilos alternativos tem feito parte do circuito underground, levando a mensagem da cruz de forma diferente, e muitas vezes não aceita pelo Gospel, afinal sería difícil obter-se lucro de tais vertentes. Damos graças a Deus por não ser nosso, o público gospel.

Mas como enxergar sem medo, e sem preconceitos, um louco, tatuado, enfeitado por piercings, gritando palavras de sabedoria e amor? A triste realidade é que o preconceito vem de quem não está fazendo o mesmo. As palavras de julgamento tem vindo daqueles que não saem da zona de conforto. Deixando de lado a hipocrisia, o adepto das missões underground, resolveu pagar o preço de deixar a pobre cultura de lado, e agarrar-se na certeza bíblica de que Cristo veio para todos, e seu amor e misericórdia são gratuitos. A graça de Jesus não depende de nossos atos culturais, não depende de nossos esforços. Pelo contrário, se dependesse estaríamos litelmente fritos.

Até quando o evangelho do medo vai ser recitado nos palanques gospel? Até quando a igreja vai insistir em questões irrelevantes para a sociedade de hoje? E quando vamos entender que julgar o próximo não vai resolver o problema dele? Quando vai cair a ficha de que ter razão sobre o certo e o errado, não vai resolver a fome de quem não tem o que comer, nem o frio do mendigo sem coberta, nem a falta de escola para a criança do morro, nem a carência do homossexual, muito menos os distúrbios do viciado.

Com essas indagações é possível entender o porque de um movimento como o contra-cultural estar crescendo tanto. Não creio que seja porque está se tornando modismo, mas sim porque não está na moda pensar no próximo, e os componentes desse movimento tem se rebelado contra tal absurdo.

Chega de cultura presa à shows e marchas para um jesus que não se assentaria na mesa com cobradores de impostos, nem conversaria com prostitutas e leprosos. Um jesus de terno e gravata, que se corrompe com qualquer quantia em dollar. Um jesus de igrejas laranjas, que carrega consigo notas fiscais frias, e escrituras de haras e mansões no exterior.

Nossa oração é que um dia nosso grito de revolta ecoe no meio da multidão surda, cega e muda. A multidão que se faz aleijada na obra do Senhor, há de um dia se tornar a minoria. E cantaremos juntos por um Jesus verdadeiro, que ama a todos independente de qualquer circunstância.

Filipe Fernandes

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